domingo, 12 de outubro de 2008

E eu não sou poeta algum sem ti,
não sou poeta sequer quando respiro.
Não, não escrevo sequer linha sem ti,
não há palavra que me ocorra sem ti.
Não há sequer uma dor, nem isso há.

E habituado estava eu a escrever a dor
que já nem sei demonstrar esta alegria.
Não há forma de elucidar este pavor,
não tenho palavras para descrever tal fantasia
que me percorre as veias sem deixar ver
que não vejo como apagar este lume,
gigante, imenso, sentido, tamanho ardor.

E se quiseste vir mais devagar que o tempo,
eu respeito os minutos meus que te dou.
Se quiseste soprar-me mais lento que o vento,
eu repito as palavras e lembro-te que contigo estou.
Se não vejo sequer o passado contigo,
eu não minto ás minhas palavras!
Não minto e te digo que este sol me entristece,
mas minto quando te digo que não quero e não posso
e meu coração de tal amor padece.
Mas não minto quando me lembro que mar é este
e as ondas que já me enrolaram na sua espuma,
não considero jamais isto mais um teste
á lembrança que apenas já venho a sua bruma.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Porque me enganas triste velho?
se não sabes sequer aquilo que dizes
nem pensas a verdade que sabes?

Onde está a bonança que prometeste?
Se chove todo o santo dia sem cessar,
se os trovões insistem em não parar.
Onde está a calma prometida?

Onde está esse jardim de eden?
esse relva verde e fresca
na calma que me foi desejada
e prometida por pequenos deuses.

Onde estás tu pequena criatura?
Onde encostas os teus prados reluzentes?
Nem sequer sei se já mudaste de nome
nem sequer sei se continuas a mesma figura
sei apenas que as minhas saudades
já quase são um monstro meu tão amado,
e as minhas ideias continuam transparentes.

E soldado me sinto a lembrar este posto,
no tempo em que o sol rasgou o Dezembro.
Hoje a tempestade inunda o meu Agosto,
e o que tenho é esta saudade á qual me prendo,
e que não esqueço nem que caia agora morto.

domingo, 15 de junho de 2008

Rosa negra



E tem ternura o teu medo, quase tanta quanto as mãos que não conheces mas com as quais eu te escrevo. E deixa as mágoas na caixa de música que deves ter no canto do teu quarto, em cima de tinta alguma ou mortas prateleiras. Se não tiveres tu uma bailarina dançando a um ritmo desconhecido terás a ternura da música que esta comporta a embelezar ainda mais as tuas incertezas certas de dor, as mágoas que escondes por detrás de tamanho sorriso tímido que nasce nos teus lábios e termina num simples olhar desviando a atenção de todo o mundo e voas tu outra vez para dentro de ti mesma, no vazio constante que os teus pensamentos preenchem.
Largas a beleza que te trás a natureza, encurralada nos alicerces do teu próprio mundo continuas incógnita á minha mágoa, continuas distante da curiosidade que me desperta a tua serena presença, continuas a fugir sem saberes sequer que te procuro, continuas perto na memoria incansável que me faz pensar-te e sentir-te no rosto ao jeito de chuva de outono, embora assim sem nunca nos termos tocado és um fantasma que leio repetidamente.
E leio-te mesmo tu nunca sabendo como, porque procuro em segredo tal jardim que nunca conheci e espero encontrar um hábito em tal vício que nunca provei.
E se nada mais me ocupa as noites sem dormir, enquanto escrevo em linhas direitas as minhas mágoas incertas, lembro-me de te lembrar e lembro-me que em segredo existe em mim uma rosa negra, na sombra do meu ser, cresce sem que dê por tal tamanho, aparte do mundo que me aproxima de todos e inconscientemente me separa de ti.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O meu amor morreu

O meu amor morreu,
morreu ontem, ou talvez á mais anos,
mas o meu amor desfaleceu.

Não me lembro sequer das suas cores,
nem tão pouco do inigualável rosto,
já não sinto, apenas recordo as suas dores,
recordo-as na minha alma a todo o custo.
O meu amor morreu á dois dias,
ou talvez á dois anos, não sei bem...
mas o meu amor morreu-me nas noites frias
matou-me todo o desejo que elas tem.

Não recordo o seu doce sabor,
mas recordo a eterna amargura.
Recordo a sua paz na minha dor
o seu doce gesto da sua ternura.
Mas o meu amor afinal não existe,
e nem hoje ainda o consigo aceitar.
O meu amor morreu triste
na dor que veio para sempre ficar.

Mas morreu o meu amor e eu não sei,
morreu um dia nos braços de alguém,
morreu ele e eu no tempo parei
para um dia morrer também.
Morreu, perdeu-se na escuridão
nos olhos cegos que eu transporto,
morreu com ele toda a paixão
para que sem remorsos um dia eu caia morto.

E ainda o sinto a matar-me devagar
porque devagar o fim se anunciou.
Sinto-o lento a querer matar
a pouca vida que em mim restou.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vai sempre haver um poema por escrever

Vai sempre haver um poema esquecido,
um poema, mais um pedaço de emoção.
Vai sempre haver um poema na memoria perdido
uma cortina que não escondeu a desilusão.

Mas sempre vai ficar algo por contar,
uma história ou um simples pesadelo passado,
algo que o tempo não deu tempo para gravar,
momento, segundo ou instante esse tão amado.

Mas porque a vida muda em nossa volta,
e a volta muda toda a nossa percepção,
ficou o poema esquecido na memória do coração
que trouxe a chave para fechar mais uma porta.

Vai haver sempre um pedaço que fica,
uma página que ficou por pintar,
uma tinta que nunca se chegou a gastar,
uma pequena vida que ficou por contar.

domingo, 1 de junho de 2008

Tempo

O tempo nasceu ontem sorrindo,
disse ao tempo que não tinha tempo para chorar.
E num sorriso enorme a sua dor vai exprimindo
para que nunca chegue o tempo de parar.

E se o tempo nunca disse ao tempo
as asneiras que ele tem para trás,
foi porque se esqueceu de lhe lembrar
que jamais o tempo volta atrás.

Mais tempo que o nosso tempo
não é sequer tempo algum.
porque o tempo não conhece a morte
nem o amor de amor algum.

Sem tempo para contar
não há mais tempo que eu queira
pois o tempo para mim é chorar
o tempo todo sem ti, sem voltar,
o tempo que um dia me matou de esperar.

O tempo que cabe neste segundo,
não é tempo algum que queira perceber,
mas tempo esse que manda no mundo
sem minutos que queira ele esconder.

Mas se o tempo não percebemos,
não nos adianta de nada esperar,
do tempo sempre nos escondemos,
e do tempo evitamos falar.

Saudade diz o tempo que existe,
mas o tempo não inventa palavras.
Nós fazemos com que o tempo seja triste
na voz que lhe damos das mágoas amadas.

sábado, 26 de abril de 2008

Afinal há feridas longe, inalcançáveis
muito além daquelas que o tempo sara,
há gesto mais que amor, mais amáveis,
há momentos em que todo o tempo pára.

Há momentos em que o céu cede,
no amor incontrolável da loucura,
no sabor azedo que a boca pede
e no desejo a única constante que perdura.

E a loucura não está em fazer,
está no acto repentino de falhar,
de ter medo ou recear o prazer
ou na cobardia de mais uma vez amar.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

E tenho eu a minha cabeça doente,
só de pensar em fazer apetece parar
de ver seja o que for que apareça á frente
até este livro sujo que tenho para estudar.

E tenho a cabeça doente,
preguiça tenho nos olhos para ver
a minha alma já tão dormente.

E a doença não tem cura,
cada dia vejo mais mas nada sei,
como uma pedra redonda e dura
sem mandamentos ou qualquer lei
está esta cabeça em que o sono perdura.
E adormecido continuo por ai andando,
arrastando os sapatos no cimento do chão
há quem chame a estas ruas a sua cura
mas para mim continua a ser a perdição.
Bala que não mata mas fura,
o negro desta rua a que eu chamo coração.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Posso estar a não ser justo
com a vida que me calhou,
queixo-me do nada e do perdido
quero ser o homem que nunca falhou.
Mas não deixo de apontar o dedo ao mundo
por me sentir despido deitado no chão
pois exprimindo-me agora mais fundo
é ele o culpado de toda esta solidão.

E se Deus aqui estivesse,
teria que o ver sem olhar,
mas afinal o que acontece
é que não o vejo nem a sonhar.
E continuem a acreditar,
que há alguém a olhar por nós
eu cá prefiro parar e pensar
o que seria de mim sem vós.

E lamentavelmente não creio
que o céu tem tecto para morar
se o tiver então é um meio
pelo qual eu me deixei enganar.
Se não tiver venha a escuridão
dos meus olhos já cerrados
lá debaixo dentro já do meu caixão
troço com Deus e os ditos iluminados.

quinta-feira, 27 de março de 2008

São dias sem dias estes dias

E os dias passam por mim a voar,
nesta penumbra que me acolhe o coração
resta-me escolher palavras para vos deixar
no resto do nada que me devolve a escuridão.

E mais que nunca cedo ao pecado,
á vontade inatingível de me ascender.
Cedo peixes ao meu rio parado
que morrem á fome sem eu nunca perceber.
Nem me pergunto porque morrem eles,
não me interessa sequer saber.
Sei que morrem ali parados diante mim,
sem que os ajude a diferente fim.

E cedo seco as águas de tal rio,
corta a fonte deserta que o alimenta,
o vento forte na rajada trás o frio
que me treme os ossos e me atormenta.
Mas paro aqui diante de mim a escutar-me
sem saber ao certo que fazer
se paro mais um pouco para não parar
ou se sigo com a indiferença de não me acontecer.

Sou um disco riscado que não quero,
o tal rio sem correntes já então parado,
mas sem forças minhas já espero,
que a morte me leve para lugar amado.

domingo, 9 de março de 2008


De volta a ti, escrevo-te, outra vez,
é comum à minha mágoa tudo isto,
a cadeira em que sento, a dor talvez.
Mas é cómodo o ardor que sinto,
é o hábito de derrota que sei que minto
e não conto a vergonha de mim mesmo.

É o fluir dos dedos adormecidos,
é capaz de ser o fim de mais uma aventura,
é as palavras mortas de todos os vencidos
que escrevo entre as linhas brancas
do único sitio que conhece tal amargura.

E sala dentro encontro-me novamente,
perdido a deixar correr a revolta
Citando para a folha ferozmente
a minha vida já então mais que morta.

E se não me calo, talvez porque não consiga,
depois o hábito é a rotina sagaz e torta
talvez hoje a minha única e fiel amiga
a faca dura dos meus dias que não corta
mas insiste em incomodar-me no meio de tanta fadiga.

E fumo mais um cigarro lendo-me tristemente,
olhando para as palavras sem fundo e sentido.
e respiro fumo soluçando lamurias calmamente
enquanto me lembro desse sentimento já então perdido.

domingo, 2 de março de 2008

De volta à perdição



Traz-me o vinho pois a vida é amarga,
Trás daí debaixo da nossa cave o tinto,
Trás lá a vida que em mim vive,
Chega cá essa garrafa senão minto
Digo-te que não gosto e farto estou
De um dia ter mentido e ser o homem
que disse que a vida amou.

Eu gosto de nada, mas o vinho ajuda
Na coragem de mentir em vossa mente,
E a mentir eu bebo o vinho que não muda
Nem de sabor, nem na loucura,
Nem na mentira te ver à minha frente.

E será a raiva oportuna do momento
Que não me deixa amar-me em paz,
Vinho meu, nosso grande tormento,
Companheiro da vida que me mata,
Dessa fria, cruel e dura verdade
Que eu espeto a cada momento.