quinta-feira, 27 de março de 2008

São dias sem dias estes dias

E os dias passam por mim a voar,
nesta penumbra que me acolhe o coração
resta-me escolher palavras para vos deixar
no resto do nada que me devolve a escuridão.

E mais que nunca cedo ao pecado,
á vontade inatingível de me ascender.
Cedo peixes ao meu rio parado
que morrem á fome sem eu nunca perceber.
Nem me pergunto porque morrem eles,
não me interessa sequer saber.
Sei que morrem ali parados diante mim,
sem que os ajude a diferente fim.

E cedo seco as águas de tal rio,
corta a fonte deserta que o alimenta,
o vento forte na rajada trás o frio
que me treme os ossos e me atormenta.
Mas paro aqui diante de mim a escutar-me
sem saber ao certo que fazer
se paro mais um pouco para não parar
ou se sigo com a indiferença de não me acontecer.

Sou um disco riscado que não quero,
o tal rio sem correntes já então parado,
mas sem forças minhas já espero,
que a morte me leve para lugar amado.

domingo, 9 de março de 2008


De volta a ti, escrevo-te, outra vez,
é comum à minha mágoa tudo isto,
a cadeira em que sento, a dor talvez.
Mas é cómodo o ardor que sinto,
é o hábito de derrota que sei que minto
e não conto a vergonha de mim mesmo.

É o fluir dos dedos adormecidos,
é capaz de ser o fim de mais uma aventura,
é as palavras mortas de todos os vencidos
que escrevo entre as linhas brancas
do único sitio que conhece tal amargura.

E sala dentro encontro-me novamente,
perdido a deixar correr a revolta
Citando para a folha ferozmente
a minha vida já então mais que morta.

E se não me calo, talvez porque não consiga,
depois o hábito é a rotina sagaz e torta
talvez hoje a minha única e fiel amiga
a faca dura dos meus dias que não corta
mas insiste em incomodar-me no meio de tanta fadiga.

E fumo mais um cigarro lendo-me tristemente,
olhando para as palavras sem fundo e sentido.
e respiro fumo soluçando lamurias calmamente
enquanto me lembro desse sentimento já então perdido.

domingo, 2 de março de 2008

De volta à perdição



Traz-me o vinho pois a vida é amarga,
Trás daí debaixo da nossa cave o tinto,
Trás lá a vida que em mim vive,
Chega cá essa garrafa senão minto
Digo-te que não gosto e farto estou
De um dia ter mentido e ser o homem
que disse que a vida amou.

Eu gosto de nada, mas o vinho ajuda
Na coragem de mentir em vossa mente,
E a mentir eu bebo o vinho que não muda
Nem de sabor, nem na loucura,
Nem na mentira te ver à minha frente.

E será a raiva oportuna do momento
Que não me deixa amar-me em paz,
Vinho meu, nosso grande tormento,
Companheiro da vida que me mata,
Dessa fria, cruel e dura verdade
Que eu espeto a cada momento.