domingo, 15 de junho de 2008

Rosa negra



E tem ternura o teu medo, quase tanta quanto as mãos que não conheces mas com as quais eu te escrevo. E deixa as mágoas na caixa de música que deves ter no canto do teu quarto, em cima de tinta alguma ou mortas prateleiras. Se não tiveres tu uma bailarina dançando a um ritmo desconhecido terás a ternura da música que esta comporta a embelezar ainda mais as tuas incertezas certas de dor, as mágoas que escondes por detrás de tamanho sorriso tímido que nasce nos teus lábios e termina num simples olhar desviando a atenção de todo o mundo e voas tu outra vez para dentro de ti mesma, no vazio constante que os teus pensamentos preenchem.
Largas a beleza que te trás a natureza, encurralada nos alicerces do teu próprio mundo continuas incógnita á minha mágoa, continuas distante da curiosidade que me desperta a tua serena presença, continuas a fugir sem saberes sequer que te procuro, continuas perto na memoria incansável que me faz pensar-te e sentir-te no rosto ao jeito de chuva de outono, embora assim sem nunca nos termos tocado és um fantasma que leio repetidamente.
E leio-te mesmo tu nunca sabendo como, porque procuro em segredo tal jardim que nunca conheci e espero encontrar um hábito em tal vício que nunca provei.
E se nada mais me ocupa as noites sem dormir, enquanto escrevo em linhas direitas as minhas mágoas incertas, lembro-me de te lembrar e lembro-me que em segredo existe em mim uma rosa negra, na sombra do meu ser, cresce sem que dê por tal tamanho, aparte do mundo que me aproxima de todos e inconscientemente me separa de ti.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O meu amor morreu

O meu amor morreu,
morreu ontem, ou talvez á mais anos,
mas o meu amor desfaleceu.

Não me lembro sequer das suas cores,
nem tão pouco do inigualável rosto,
já não sinto, apenas recordo as suas dores,
recordo-as na minha alma a todo o custo.
O meu amor morreu á dois dias,
ou talvez á dois anos, não sei bem...
mas o meu amor morreu-me nas noites frias
matou-me todo o desejo que elas tem.

Não recordo o seu doce sabor,
mas recordo a eterna amargura.
Recordo a sua paz na minha dor
o seu doce gesto da sua ternura.
Mas o meu amor afinal não existe,
e nem hoje ainda o consigo aceitar.
O meu amor morreu triste
na dor que veio para sempre ficar.

Mas morreu o meu amor e eu não sei,
morreu um dia nos braços de alguém,
morreu ele e eu no tempo parei
para um dia morrer também.
Morreu, perdeu-se na escuridão
nos olhos cegos que eu transporto,
morreu com ele toda a paixão
para que sem remorsos um dia eu caia morto.

E ainda o sinto a matar-me devagar
porque devagar o fim se anunciou.
Sinto-o lento a querer matar
a pouca vida que em mim restou.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vai sempre haver um poema por escrever

Vai sempre haver um poema esquecido,
um poema, mais um pedaço de emoção.
Vai sempre haver um poema na memoria perdido
uma cortina que não escondeu a desilusão.

Mas sempre vai ficar algo por contar,
uma história ou um simples pesadelo passado,
algo que o tempo não deu tempo para gravar,
momento, segundo ou instante esse tão amado.

Mas porque a vida muda em nossa volta,
e a volta muda toda a nossa percepção,
ficou o poema esquecido na memória do coração
que trouxe a chave para fechar mais uma porta.

Vai haver sempre um pedaço que fica,
uma página que ficou por pintar,
uma tinta que nunca se chegou a gastar,
uma pequena vida que ficou por contar.

domingo, 1 de junho de 2008

Tempo

O tempo nasceu ontem sorrindo,
disse ao tempo que não tinha tempo para chorar.
E num sorriso enorme a sua dor vai exprimindo
para que nunca chegue o tempo de parar.

E se o tempo nunca disse ao tempo
as asneiras que ele tem para trás,
foi porque se esqueceu de lhe lembrar
que jamais o tempo volta atrás.

Mais tempo que o nosso tempo
não é sequer tempo algum.
porque o tempo não conhece a morte
nem o amor de amor algum.

Sem tempo para contar
não há mais tempo que eu queira
pois o tempo para mim é chorar
o tempo todo sem ti, sem voltar,
o tempo que um dia me matou de esperar.

O tempo que cabe neste segundo,
não é tempo algum que queira perceber,
mas tempo esse que manda no mundo
sem minutos que queira ele esconder.

Mas se o tempo não percebemos,
não nos adianta de nada esperar,
do tempo sempre nos escondemos,
e do tempo evitamos falar.

Saudade diz o tempo que existe,
mas o tempo não inventa palavras.
Nós fazemos com que o tempo seja triste
na voz que lhe damos das mágoas amadas.